terça-feira, 23 de setembro de 2014

Enologia selvagem: vinho jurubeba (I)


 

Por Xico Sá


Li agora, na revista “são Paulo” desta Folha, que a catuaba virou modinha de baladas de bacanas. Não sem merecimento, como diria o dublê de Conan aí acima do desenho do Benício que enfeita o rótulo da marca “Selvagem”.

Coisa linda. A cidade melhora quando uma bebida da ralé migra para outra categoria ou classe. Quando ocorre o contrário, melhor ainda, sinal que houve uma certa democratização do goró da gente phyna -fato social bem mais raro, põe raro nisso.

Aproveito o bigu na ótima matéria do colega Rafael Balago para resgatar uma velha crítica que fiz sobre outra fonte de embriaguez e sabedoria popular: a jurubeba.

Se no vinho metido está a verdade (In Vino Veritas), In Jurubeba Fabulari, ou seja, na jurubeba está o poder de fabular,  mentir, xavecar etc.

Sem mais arroto, vamos à sofisticada degustação deste sommelier da caatinga:

A primeira expedição, como no filme “Sideways”, teve como destino Aratu, na Bahia. Não poderíamos iniciar com outro licor dos deuses que não fosse o vinho macerado da Solanum paniculatum, a rica fruta conhecida vulgarmente como jurubeba, a pinot noir de quem nasceu para beber, não para cheirar a rolha e desgustar como uma freira.

Mal você abre a tampinha de lata reciclada –é mais ecológico, a cortiça vive uma crise na Europa-  e já percebe se tratar de um vinho compacto, com um bloco de aromas em leque perfumando o ambiente, mesmo o pior dos pés-sujos da Lapa de Baixo.

De perfil aromático limpo e complexo –nosso crítico também não trabalha com amadeirados e quetais-, o Jurubeba Leão do Norte guarda a essência de extratos de cravo, canela, quássia, boldo e genciana. O tanino de caráter rijo junta-se ao caramelo de milho e dá tintas finais à uma coloração entre o rubi e frutas negras do semi-árido -com halo aquoso ainda em formação.

Repare no sabor fugidio do jatobá e da flor de muçambê, com florais de mulungu e pau-d´arco ao longe. No todo, o equilíbrio chama a atenção. E de que mais precisamos, amigo papudinho, do este suposto equilíbrio no momento da volta ao lar doce lar?!

O vinho de jurubeba harmoniza bem com a gastronomia de sustança. Pratos sugeridos: mocotó, mão-de-vaca, chambaril,  bode e caprinos no geral, javali, teju etc.

Podemos aplicar ao jurubeba o mesmo impressionismo paradoxal que o renomado crítico Robert Parker usou para definir o Romanée-Conti: “Aromas celestiais e surreais…”. Seja lá que diabo ele quis dizer com essa xaropada de adjetivos.

Saúde! Porque se os outros vinhos ajudam o coração, o jurubeba é reconhecido na medicina popular como um fortificante da cintura para baixo. Afrodisíaco no último.
Até a próxima visita às adegas e aos alambiques mais roots do país. Mande também a sua sugestão de nossos melhores licores.

E lembre-se, amiga, antes uma bela de uma mentira amorosa de um macho-jurubeba do que uma verdade arrotada por um homem-bouquet -aquele camarada que aplica o caô do especialista em vinhos finos. Corra Lola, corra.





segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Churrasco de bar. Adoro!


Eu já tava cismada que andava pelo centro da cidade de Porto Alegre pela milésima vez e não via uma churrascaria sequer pra apreciar uma boa carne assada. “Gaúcho é tudo falador mesmo”, pensava. “Só sabe fazer churrasco em casa, só pode ser”. Mas eu já tava mesmo era brava. No Mercado Municipal, o dono de um estabelecimento me disse que havia uma ali por perto, sim, mas era bem simples. Disse que os donos são uns “gringos” (forma que o gaúcho chama os descendentes de italianos), e que apesar de simples, serviam ali bom churrasco.

Avenida Júlio de Castilhos, atrás do Mercado. Seguir em direção à rodoviária. A churrascaria está do lado direito da calçada. Passa o terminal de ônibus, no próximo quarteirão. Eu quase não vi a churrascaria, porque a entrada é pequena, e ela parece mais é um barzão daqueles bem véio. O que me chamou a atenção foi a placa na entrada.


Se não fosse esta placa...
Pulei pra dentro. Só faltou a pingaiada no balcão. Porque eu tava entrando num barzão. E logo vem um dos “gringos”, no sorriso simpático, me receber:

- Olá, o que a senhorita deseja?
- Eu quero churrasco, uai (esse uai eu herdei dos tempos de Belo Horizonte).
- Ah, vou te colocar numa mesa especial e você vai comer um bom churrasco.


Estilo barzão

Animei. Realmente o lugar era bem simples. Mas, queria ver o que ia sair dali. Ele me colocou bem perto da porta por onde saem as carnes assadas. Pedi uma Original. Não tinha. Mas tinha Serra Malte. Ôpa! Aí sim. Fiquei olhando, não tinha buffet pra me servir. Saquei que o lugar era dos tradicionais mesmo. Não demorou e o tiozinho veio trazendo um monte de coisas boas, um pouquinho em cada travessa. Bem a cara de churrascarias do Sul. “Agora sim, vou comer churrasco de verdade em Porto Alegre”, pensei. E não me enganei.


Acompanhamentos deliciosos, bem caseiros!

Olha, vieram vários tipos de carnes, todos muito deliciosos. Mas a costela! Ai, a costela! Se tem um critério, para mim, sobre a qualidade de uma churrascaria, é a qualidade da costela assada que servem. E a costela servida na Churrascaria Continental, de Porto Alegre, do ambiente simples, do local que parece um barzão, é boa demais! Desossada, né? Começa por aí. E a carne macia, macia, com um sabor muito gostoso. Eu tô escrevendo aqui e a água tá correndo na boca.

Não fotografei a costela, na hora, porque eu só pensava em comê-la. Ainda sou degustadora das antigas. As imagens desta publicação eu peguei da internet. E estava sozinha, não havia nenhum aficcionado em fotos de comida comigo. Sendo assim, fica a dica pra vocês. Em Porto Alegre há algumas churrascarias para turistas, nunca fui, talvez sejam boas e confortáveis. Mas com certeza eu voltarei na Churrascaria Continental ainda neste ano, porque além de parecer um barzão, tem uma costela desossada maravilhosa lá me esperando. Bora, Seu Cadore?

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Eu quero é comemorar!

Como diz o amigo Emílio, a gente sempre tem um bom motivo pra beber na sexta-feira. O de hoje é bom demais: 25 mil visualizações do blog Pra quem gosta de bar. Você, que entrou agora nele, está contribuindo pra isso. Na verdade esta postagem foi só pra arredondar o contador ainda hoje, pois queremos bebemorar.





Como vocês sabem, o blog não está com regularidade e as postagens estão bastante espaçadas, devido ao deslocamento das idéias etílicas para a produção concreta do conhecimento científico. Não tá fácil, mas de vez em quando a gente passa por aqui pra contar um causo e apresentar um lugar novo.

Quem quiser fazer um brinde com a gente hoje fique à vontade de chegar pra comemorar.

Valeu! Estas 25 mil visualizações foram alcançadas com o envolvimento de vocês, conferindo o blog ou fazendo companhia nos bares pra contarmos mais histórias. Bora batalhar pelas 50 mil visualizações agora!


Boa sexta-feira e bom fim-de-semana!