quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Rubens





de Luís Fernando Veríssimo

Tinha pouca gente no bar quando o homem entrou. Ele sentou numa banqueta do bar, sorriu para o barman e pediu:

- Dois uísques.

Dois?

- Um puro, com gelo, para mim, outro com soda para o Rubens.

O barman sorriu.

- O Rubens vai chegar depois?

- O Rubens está aqui do meu lado.

O barman hesitou, continuou sorrindo, depois deu de ombros. Tudo bem. dois uísques, sendo um com soda para o Rubens. Colocou os dois uísques na frente do homem, que empurrou o que tinha soda para o lado. Depois de tomar o seu, o homem falou.

-Rubens, telefone para casa e xingue a sua mulher. Agora. Ela compreenderá.

Em seguida o homem tomou o uísque com soda também e confidenciou para o barman:

- Na verdade eu não bebo, Só venho para acompanhar o Rubens e evitar que ele beba demais. Notou como eu tomo o uísque dele sem ele perceber? É o jeito. Senão ele fica inconveniente. Canta "Conceição". O diabo. Põe outro soda aqui pro Rubens não notar que eu bebi o dele.

Mas ele é parente seu?

- Que parente? Eu nem conheço.

- Mas então porque...

- Olha aqui, não fala assim do Rubens. É um grande cara. Teve uma vida cachorra, entende? Cachorra. Não foi nada que quis ser na vida. Tem problemas em casa. Olha, ele está voltando e vai lhe acertar uma.

- Mas o que foi que eu fiz?

- Fica aí insinuando que ele é doido. Só porque tem um amigo imaginário. Pois o amigo dele sou eu e eu existo. Ou não existo?

- Calma, calma.

- "Conceição, ninguém sabe..." Põe mais dois aqui. Um só com gelo e um com...

- O senhor não acha que já bebeu demais?

- Como é que eu vou saber? Estou bêbado.

- Acho que chega.

- Então traz só o do Rubens.

- É melhor o senhor ir pra casa.

- Não contraria o Rubens que é ele que tá pagando!


Este texto está publicado no livro do autor intitulado Novas comédias da vida privada, L&PM Editores, 1996. Foi encontrado na internet em http://www.sinpro-rs.org.br/extra/ago97/verissim.htm

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