segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Breve alerta sobre a festa da firma

Por Xico Sá
http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/


Aqui o leitor aprende a arte do vexame
  
Cada vez começam mais cedo. Nem chegamos a dezembro e elas pipocam por ai. Como presto serviço a vários senhores -frila tal aquele moço trapalhão da commedia dell´arte-, já recebi uns três convites.

A festa da firma está chegando. Todo cuidado é pouco. Aqui antecipo o meu repetido conselho anual endereçado aos que se excedem neste momento. 

Nos meus tantos anos de carteira assinada, já vi de tudo nas confraternizações. É um capítulo à parte da nossa existência sob o domínio das 365 folhinhas do calendário.

Tão importante quanto a Missa do Galo.

Quase um dia das Mães sem as nossas mães, ainda bem, ufa.

Um dia dos namorados sem namorado(a)s por perto. A menos que vocês desrespeitem aquela verdade bíblica do pão e da carne -onde se ganha o primeiro, não se desfruta do segundo, amém.

Festa de firma. 

Tédio para uns, celebração dionisíaca para outros. 

Fim de ano, aquela animação, aquele queijo coalhado no juízo, nervos à flor da pele, a vida assim meio Roberto Carlos, meio Almodóvar, meio Nelson Rodrigues, enfim, a vida simples, brega como ela é, a vida sem mistificação ou assepsia, a vida que não lava as mãos à toa.

Alguém querendo bater no chefe que o humilhou o ano inteiro, alguém querendo comer a gostosa do telemarketing.

O cenário certo, na graduação alcoólica certa, na boca-livre perfeita para um elemento cometer alguma desgraça ou crime de primeira página, seis colunas, manchete. Com direito a story-board.

Festa de firma. Pequenas histórias acumuladas o ano inteiro. Alguém sempre jurado de morte.

Tanto no terreno amoroso como na violência física de fato, tentando tirar na base da ignorância a mais-valia de uma vida inteira.

O acerto de contas.

Todo cuidado é pouco, caros bebedores amadores, com a festa da firma. Falo sério.

A melhor cena que vi foi numa farra do “Notícias Populares”, o glorioso e sanguinolento “NP”, de saudosa memória, que bateu as botas gutenberguianas como os presuntos que exibia em suas páginas.

Imaginem uma linda e desgostosa (com o marido canalha!) secretária. 

Pensaram?

Terceira caipirinha. De alguma fruta exótica. Toda gostosa adora uma novidade.
Música, maestro. 

Toca uma faixa capaz de fazer de uma madre superiora uma Madonna, capaz de fazer de qualquer entrevado um Elvis, um Elvis em Acapulco cantando na beira da piscina do Hilton Palace .

Toca algo assim como aquele “chabadabadá” da trilha de “Un Homme et Une Femme”, filme das antigas, “Um Homem, uma Mulher”, de Claude Lelouch, grande película.

Quarta caipirinha. 

O chão é pouco para os passos da pecadora.

Ela sobe numa mesa.

Antes, beijara na boca, sem discriminação de classe, do diretor ao contínuo. Eu, um reles cronista folhetinesco daquele diário, também locupletei-me, claro, mas meio tímido, juro.

Quinta caipirinha.

A blusa não resistiu ao primeiro gole. O sutiã foi parar na cabeça do tiozionho do arquivo.
Sexta caipirinha acompanhada de uma cerveja mexicana: foi-se quase tudo. Belas saboneteiras, omoplatas geniais, observei.

Coube ao marido -a quem mais caberia?- enquadrar a “vadia”, como ele berrava sem economizar nas exclamações! Chegou para apanhá-la e acabou testemunhando o que não queria.

A festa acabou. 

E agora, José, fica ai o alerta: não há inocentes em uma festa de firma. Numa festa de firma, o mais tímido e sonso dos mortais dubla Carmem Miranda e passa a mão na bunda do chefe, só pra quebrar a hierarquia pelo seu ponto mais, digamos assim, inviolável.
Você já deu algum vexame?


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