quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cultura no cérebro, na alma, e no bar: 15 anos sem Chico Science


E na praia é que se vê,
A areia melhor pra deitar
Vou dançar uma ciranda pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor”

Chico Science






Hoje completam-se 15 anos sem o cantor, compositor, resgatador e criador de cultura Chico Science. A música deste pernambucano embalou e embala muitos bares e festas, deixa a gente animada, quando o tambor bate forte as tradições do maracatu e a guitarra grita as influências do rock e da música pesada. A música de Chico Science se preserva na continuidade dos músicos que ainda propagam o som do Manguebeat, som de uma geração dos anos 90 que vem para hoje com a força do contemporâneo.


No blog não poderíamos deixar de fazer uma homenagem e, para não sair do tema, buscamos a ligação deste homem com o bar, é claro. Veja o que Moisés Neto escreve no livro “Chico Science, Zeroquatro & Faces do Subúrbio: A Cena ”, sobre a formação cultural de Chico Science:


Do outro lado da cidade, Fred Zeroquatro, Renato Lins, Jorge dü Peixe, Helder Aragão (DJ Dolores), HD Mabuse e Chico Science (ainda conhecido como Chico Vulgo), entre outros, se reuniam em bares como o Cantinho das Graças, Franc’s Drinks (um antigo prostíbulo) e posteriormente na Soparia do Pina (de Roger de Renor). Discutiam, entre outras coisas, literatura beatnik e iam dividindo discos e informações mais novas do mundo. Entre uma cerveja e outra, essa turma da classe média falava da teoria do caos (em todo caos há uma ordem), dos fractais (a repetição cria novos sistemas, na mistura). É quando Chico lê o romance Homens e Caranguejos, de Josué de Castro (1908-1973)..."



 


Renato L, o qual desenvolveu, junto com Fred 04 (Mundo Livre S.A) e Chico Science, o Manifesto “Caranguejo com Cérebro”, conta como Chico Science, no bar, inspira os demais ao som que ele veio a chamar de Mangue:

Eu estava no Cantinho das Graças, um bar sem qualquer atrativo frequentado pela galera. Na mesa acho que bebiam Mabuse, Fred, Vinícius Enter e outros. De repente, Chico apareceu e sem nem sentar foi anunciando “olha, fiz uma jam session com o pessoal do Lamento Negro e mesclei uma batida disso com uma batida daquilo e um baixo assim...Vou chamar esse groove de Mangue!”. Na hora, ficamos sem saber o que era mais interessante, o som ou a palavra usada para sintetizá-lo. Aquele era o rótulo! Como todo mundo tinha um sonho em mente e um esboço de trabalho em conjunto havia se delineado em algumas festas, a tentação de ampliar o conceito surgiu de imediato. Acho que numa despretensiosa meia-hora surgiram os esboços de quase todos os conceitos básicos do Mangue... Aquela noite, na minha memória, sem que ninguém percebesse, foi um momento-chave”.

O bar chamado Soparia foi palco do Manguebeat, onde a cultura se reunia e se propagava. Helder Vasconcelos, um dos criadores de Mestre Ambrósio, escreve sobre o bar:

Soparia, de sopa, foi o bar com shows ao vivo mais democrático dos anos 90. Ponto de encontro de toda uma geração, reunia todos os artistas da cidade, incluindo os que fizeram a movimentação Manguebeat. Roger, que comandava o bar, ficou imortalizado na música gravada por Chico Science e Gilberto Gil. Era o único local da cidade que tinha shows todos os dias. Santa Boêmia, Mundo Livre S.A., Jorge Cabeleira e o Dia Que Seremos Todos Inúteis, Paulo Francis Vai Pro Céu, Chico Science & Nação Zumbi, entre muitos outros, tocaram lá. Para o Mestre Ambrósio, foi muito mais do que um lugar de show. Com duas temporadas em dois anos, o grupo tocava todas as quartas-feiras. Sem dúvida, foi onde nasceu suas apresentações e também onde formou seu público inicial, fundamental pra sua carreira.”


O dono do Soparia, Roger, e a radiola de ficha que tocava sons ecléticos no bar são parte da letra da música Macô, de Chico Science:


De lama nada
Segura essa garrafa
O Gargalo já tá feito
Táis adivinhando cheia
Olha pra lá, vira a cara não dá bola
Pega uma ficha aí bota lá na radiola
Cadê Roger, Cadê Roger, Cadê Roger, Ô!”



Roger e sua Caravan, em uma foto de 2011
 

O Soparia fechou em 1998, mas no mês de janeiro, em Recife, teve festa pra comemorar os 20 anos da criação do bar. Roger está bem vivo, é produtor cultural, e não deixa a história se perder. Chico Science se foi em um carnaval, no ano de 1997. Sua música ainda sacode o corpo e a cabeça da gente.


Saiba mais:

Livro “Chico Science, Zeroquatro & Faces do Subúrbio: A Cena ”



MANGUE BEAT – Breve Histórico do seu Nascimento

Manifesto1 “Caranguejos com cérebro” e Manifesto 2 “Quanto vale uma vida”

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