segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A blitz antibroxada nos bares de SP





Por Xico Sá
xicosa@uol.com.br

Gazelas insinuantes aproveitam as nuvens de testosterona que encobrem a noite dos bares da vila Madalena, SP, e distribuem folhetos contra a “disfunção erétil”.

Sim, a humaíssima brochada ou broxada, por supuesto, como admitem os dicionários.

Uma piadinha bêbada aqui, uma cantada grosseira acolá, e lá seguem as moças na pregação cívico-priápica.

Uma galega linda. Tão linda que só perde para Amanda –a pescadora dos sete mares-, me sorri bonito e barulhento como o cachorro da música de Roberto.

O panfletinho azul que elas distribuem nem toca no nome da pílula milagrosa. Nem carece.

Mal as fofoletes adentram o Filial, botequim da madruga, e a nossa mesa, enfeitada por um magote de cabra safado, ataca de “Capim Novo”, o clássico da disfunção erétil de todos os tempos:

 “Esse negócio de dizer que droga nova/ muita gente diz que aprova/ mas a prática desmentiu...”

Nossa canção de protesto toma conta do ambiente. Um belo fuzuê:

O doutor disse/ que o problema é psicológico/ não é nada fisiológico/ele até me garantiu...”, emendamos.

Certo mesmo é o ditado do povo/ pra cavalo velho/ o remédio é capim novo”.

A música de Luiz Gonzaga e José Clementino toca fogo na noite paulistana.

Pianinho, pianinho, como dizia Benito de Paula. Silêncio no ambiente.

Aí começa um debate de altíssimo nível. Com participação das gazelas, dos garçons, do tirador de chope...

Beber é ter sempre uma tese de algibeira.

A desta fatídica noite: pelo direito de falhar, pelo direito de ouvir um lindo “relaxa, querido, isso acontece nas melhores famílias do Crato.”

Tempos chatos estes da felicidade química a qualquer custo.

Como diz uma amiga curitibana, linda afilhada de Balzac, hoje em dia as mulheres não sabem mesmo se são o motivo daquele sexo inspirado ou se tudo não passa de mais um milagre da pílula.

Acabou aquele suspense, hitchcockianismo do amor, diante da possibilidade de um retumbante fracasso na cama.

Acabou o orgulho da moça em fazer funcionar algo aparentemente leso e morto.

Com as tais das drogas novas, o camarada é capaz de ficar excitado até num velório. Morte de parente próximo. Qualquer coisa que se bula é motivo para o assanhamento.

Esse paraíso artificial só faz sentido para os vovôs.

As autoridades poderiam até distribuir umas drágeas por ocasião do pagamento das aposentadorias. Seria o fim geral do fastio.

Nada de “vovô viu a uva”. Coisa das antigas. “Vovô viu o Viagra”. Esta sim seria a nova aliteração didática das cartilhas infantis.

Para os mais jovens, jamais. Apenas a pílula do destemor e da coragem.

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